Amamentação: o leite materno é suficiente?

Os mamíferos como classe de animais, caracterizam-se pela presença de glândulas mamárias nas fêmeas, que produzem leite para alimentação dos filhotes (ou crias). Assim a mulher (fêmea), como pertencente à classe dos mamíferos, está fisiologicamente preparada para alimentar os seus filhotes através da produção de leite, sem que as suas crias tenham necessidade de qualquer outro alimento até pelo menos aos 6 meses de vida, isto mesmo que existam dois filhotes (gémeos), na medida em que se possuímos duas glândulas mamárias somos capazes de alimentar duas crias. 

A mulher, em termos fisiológicos em nada difere das suas congéneres na natureza, tal como a macaca, a leoa ou a gatinha…todas elas produzem leite suficiente para o número de crias que têm, e o problema apenas se coloca quando por um mero acaso da natureza têm um número de crias superior ao número de glândulas mamárias, por exemplo no caso da mulher o problema poderia surgir quando existem trigémeos.

Embora constatemos que na Mãe Natureza tudo funciona correctamente, ou seja, as fêmeas alimentam os seus filhos até que eles tenham capacidade para digerir ouros alimentos, o mesmo não acontece com o Ser Humano. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza a amamentação exclusiva até aos 6 meses e complementar até aos 2 anos ou mais, no entanto, em Portugal, as taxas de prevalência de aleitamento materno estão ainda longe do preconizado pela OMS.

A maioria das mães deseja amamentar o seu bebé e efectivamente inicia esta prática (mais de 90% das mulheres iniciam a amamentação), no entanto, apenas 34% ainda amamenta aos 6 meses e ao ano de vida da criança apenas 16% (dados de 2003). Para a OMS o abandono precoce da amamentação é um problema de saúde pública, pelo que nos últimos anos têm surgido várias campanhas de apoio ao aleitamento materno e pressão política no sentido de ocorrerem mudanças na legislação que favoreçam esta prática. 

Vários estudos internacionais mostram que 50% das crianças deixam de ser amamentadas no 1º ou 2º mês de vida; assim podemos certamente concluir que o retorno da mulher ao trabalho não será o factor que mais condiciona a prevalência do aleitamento materno. Segundo a OMS / UNICEF, um dos mais importantes motivos para o desmame precoce é uma falta de informação generalizada do conhecimento da fisiologia da lactação e que a maioria das mães não sabe, efectivamente, que pode amamentar eproduzir leite suficiente para alimentar o seu filho.

São inúmeros os benefícios da amamentação para a mulher, para saúde imediata e futura de cada criança, família e até mesmo para a sociedade e meio ambiente. Aos profissionais de saúde compete informar e apoiar o aleitamento materno, no entanto, em Portugal, as Instituições de saúde exercem por vezes um efeito negativo porque continuam a usar práticas já há muito ultrapassadas (King, 2001).É comum, no meu dia a dia, como Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Conselheira em Aleitamento Materno OMS / UNICEF, ouvir relatos das mães que durante o período de internamento (pósparto), não podiam amamentar com intervalos inferiores a 2/ 3 horas ou que o bebé tinha que mamar 20 / 30 minutos.

Fisiologicamente, a mulher está preparada para amamentar e o bebé está preparado para mamar, não existem leites fracos nem produção inferior às necessidades do bebé, desde que o bebé seja amamentado em horário livre – sempre que quiser, durante quanto tempo quiser. Claro que podem surgir dificuldades físicas inerentes à mãe ou ao bebé que dificultem o aleitamento, tais como dificuldades na execução da técnica de amamentação (e consequentemente má pega), bebé doente ou sonolento (por exemplo por efeitos de medicamentos analgésicos administrados à mãe durante o trabalho de parto) ou outras, cabe aos profissionais de saúde ajudar e apoiar, reforçando que não está em causa a qualidade do leite, apenas são necessários alguns ajustes e persistência.

O bebé pode mamar 12 vezes ou mais em 24 horas, o que dá em média intervalos de 2 horas, no entanto, se o bebé faz alguns intervalos de 3 horas ou mais, é provável que outros sejam inferiores a 2 horas,o que é normal e saudável. Também, no que diz respeito à duração da mamada, o bebé tanto pode mamar 3 ou 4 minutos como mamar 1 hora ou mais, todas as mamadas vão diferir entre elas, tal qual nós adultos fazemos várias refeições diferentes ao longo do dia.Também, utilizando a mesma comparação, todos nós temos dias em que temos mais forme e efectivamente ingerimos maior quantidade de alimentos, assim, é normal que o bebé tenha dias em que vai querer mamar quase de hora em hora e no dia seguinte provavelmente está 4 horas ou mais sem mamar. As suas necessidades vão reflectir o seu ritmo de crescimento, e portanto, estes dias de “fome” durante o primeiro mês de vida serão mais frequentes (aos 2/3 dias, 8 dias, 15 dias e 1 mês) e depois será provável que mensalmente até aos 6 meses e aos 9 e 12 meses se voltem a repetir. Estas etapas são nada mais, nada menos, que as alturas em normalmente a mãe decide “experimentar” um leite artificial porque acha que o seu bebé tem fome. O que a mãe sente não deixa de ser verdade, efectivamente o bebé nesses dias parece esfomeado, no entanto a solução, caso a mãe pretenda. continuar a amamentar, não é introduzir um leite artificial, mas sim alimentar o bebé quantas vezes for necessário e rapidamente tudo voltará seu ritmo normal.

As glândulas mamárias, estão preparadas para produzir leite por acção hormonal despoletada pela estimulação quando o bebé suga, por isso, a mama produzirá tanto mais leite quanto mais o bebé sugar. A mama não é um reservatório, tipo biberão, que se enche e esvazia, é uma glândula em constante produção enquanto o bebé mama. Portanto, não existe justificação fisiológica para que a mãe deixe de ter leite, o mais comum é que primeiro a mãe decide ou é induzida a introduzir um leite artificial, e assim cada dia que passa vai dando menos vezes e menos tempo a mama ao bebé, até que normalmente, 2 a 3 semanas após a introdução do novo leite a mãe deixa definitivamente de amamentar, referindo posteriormente que o motivo pelo qual deixou de amamentar foi a não produção do leite.

 

Claro que as dificuldades e dúvidas são muitas, o peso cultural também não ajuda, é necessário não esquecer que as mães da geração anterior (pais da geração que neste momento se está a reproduzir) praticamente não amamentaram pela necessidade de entrar no mercado de trabalho e não existir praticamente licença de maternidade (logo, provavelmente não serão bons “conselheiros”). Assim, toda a mulher que pretenda amamentar o seu bebé deve procurar toda a informação necessária sobre a amamentação durante a gravidez, por exemplo em cursos de preparação para o nascimento (preferencialmente com formadores que sejam Conselheiros em Aleitamento Materno pela OMS / UNICEF) e após o nascimento, caso surjam dúvidas procurar aconselhamento profissional com um Conselheiro em Aleitamento Materno antes detomar a decisão de introduzir um leite artificial.

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Autor:

Sónia Barbosa da Rocha

Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia (Enfª Parteira)

Conselheira em Amamentação oms/UNICEF

 

Fotos: www.magicfotografia.pt

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