O Nascimento da Ária 20.02.2022 (Pais Vanessa & Sérgio)

Antes de engravidar sabia que se engravidasse queria um parto em casa dentro de água. Quando soubemos que estava grávida partilhei com o Sérgio e ele apoiou-me. Juntos caminhámos nesta nova jornada onde tanto aprendemos.
Procurámos então uma equipa para nos acompanhar neste processo. Quando falei ao telemóvel com a Sónia (parteira-enfermeira) simplesmente a marcar uma consulta para nos conhecermos eu senti que era ela. O mesmo com a Marta (Doula).

Aprendemos tanto durante todo o processo da gravidez, que foi muito tranquila até ao último trimestre.
Primeiro passámos por situações que nos alarmaram desnecessariamente, foi o posicionamento da bebé, que estava pélvica (era cedo e tivemos certo receio que ela não virasse. Durante uns cinco dias fiz moxabustão, algumas posições e meditação para ajudar e depois senti relaxar e confiar, e realmente ela virou no tempo dela) depois foi o peso dela (era pequenina e tivemos de repetir eco por mencionarem baixo percentil e possível restrição de crescimento, acabou por nascer com 3,100 kg).
Queremos controlar tudo e por vezes só precisamos de esperar e confiar que tudo acontece no tempo certo, cada gravidez e bebé são diferentes.

Durante a minha gravidez fiz meditações guiadas praticamente todas as manhãs e uma das frases no último trimestre era que confiva no meu corpo e na minha bebé. Sabem o que fazer, quando fazer.

Quando tudo parecia mais tranquilo tivemos um diagnóstico com protocolo de indução que nos fez apressar a chegada na nossa menina e olhar mais de perto para outras opções. Aceitar a ideia de que se fosse preciso iríamos para o hospital. Estávamos perto das 37 semanas.
A visão médica baseia-se em protocolos e não vê cada situação individualizada. Felizmente tivemos esse acompanhamento mais individualizado.
Claro que sem negar este diagnóstico, fomos sempre vigiando a minha saúde e a da bebé.
Experimentámos várias sessões de acupuntura para tentar indução natural. Foram três semanas desafiantes mas a Aria tinha o seu tempo…

Rezei muito…
Precisei de desapegar, confiar e entregar. Aprendi e cresci muito, sinto que curei muitos padrões…

…Mantive-me no meu centro e olhei para dentro para o que eu sentia, confiando na minha intuição. Sempre confiei que tudo iria dar certo, independentemente da forma que fosse acontecer.

Sinto que ter uma prática de Yoga na minha vida foi essencial para lidar melhor com estas situações e para estar conectada durante o parto.

No sábado dia 19 de Fevereiro, acordei sentindo-me muito tranquila e centrada, apesar de saber que se a bebé não nascesse em breve teria de ir de novo ao hospital.
Fui praticar no shala, na aula guiada, pensando que esta poderia ser a última prática grávida. No início da prática coloquei intenções de entregar quaisquer bloqueios que poderiam estar no meu corpo, quaisquer medos, que poderiam interferir com que o parto avançasse.

Senti-me super bem a praticar.

Essa tarde comecei a sentir-me cansada…. Tinha marcada uma sessão de acupuntura a qual desmarcaram e eu confiei que foi por alguma razão.

Aproveitei a tarde para descansar, tirei umas fotografias que já queria ter tirado a alguns dias, pois a qualquer momento poderia já não estar grávida. E mal eu sabia que este iria ser o meu último dia grávida.

Curiosamente ou não, a minha avó ligou-me ao final do dia e contou-me a experiência dela dos partos que teve, as quais foram rápidos e positivos, e disse que no dia se sentiu mole, mais cansada.

Fomos dormir e por volta da meia noite acordei com contrações (O Sérgio estava a terminar de ver um filme e ia dormir quando eu acordei).

Não era algo novo, já há umas semanas que andava a sentir. No entanto estas eram diferentes, seguiam um padrão, de 10 em 10 minutos e a intensidade era maior, nas outras vezes só queria ficar na cama e desta vez tive vontade de me levantar e ir para a bola de pilates fazer movimentos circulares. Falava com o meu corpo, dizia que me permitia ser um canal para este processo acontecer através de mim e que dava as boas-vindas às sensações mais intensas.

Acordei o Sérgio que acabou por dormir só uma hora, enviei mensagem à Marta a explicar o que se estava a passar .

Entretanto a Inaia fica muito agitada e vomitou…

…Continuámos a cronometrar as contrações e rapidamente começavam a ter 5 minutos de intervalo e depois 3, a duração da contração passou de 45 segundos para perto de 1 minuto. O Sérgio começou a encher a piscina (com ar) para estar pronta a tempo e pedi que contactasse a doula e a parteira para virem.

Chegou primeiro a Marta, observou que as coisas se estavam a encaminhar e confirmou com a Sónia para vir e mais tarde a chegou a outra parteira, a Carmen, e a Rosa a fotógrafa.

Eu ainda estava com dúvidas se iria mesmo ser desta, mas ao mesmo tempo sabia que em breve iríamos conhecer a nossa filha.

Estávamos na sala quando a Sónia chegou, já devia ser umas 4h, 4h30 da manhã. Perguntou-me se queria que me visse para verificar como estava a dilatação, eu consenti. Ainda estava com 1 cm o que ainda não é considerado trabalho de parto ativo.

Fomos para o nosso quarto para descansarmos e ficarmos mais sossegados e no escuro e ver se as coisas evoluíam.
Tentei dormir mas só conseguia estar deitada entre as contrações, quando elas vinham tinha de me levantar e mudar de posição. Punha-me de quatro e o Sérgio massajava-me a lombar. Vomitei, e a Inaia continuou a vomitar e com diarreia. Sinto que me estava a ajudar no processo.

Mais tarde a Sónia veio ver como as coisas estavam a evoluir. Sempre a informar e a pedir consentimento para me examinar. Estava com 4 cm de dilatação.

Depois de algum tempo de quatro experimentei a postura baddha konasana, já tinha lido que ajudava no trabalho de parto, e realmente ajudou.

O Sérgio apoiava-me e abraçava-me pelas costas e eu conseguia mergulhar na intensidade da contração, observar e relaxar a dor, sem resistir, em vez disso senti a expandir pelo meu corpo e ficou mais fácil de gerir. O Sérgio ajudou a manter-me mais relaxada. Canalizava a intensidade comigo. Entre as contrações descansava e relaxava…Entretanto saiu o rolhão mucoso.

Começamos a ouvir que estavam a começar a encher a piscina e o Sérgio queria ver o que se passava, como eu não o deixava sair perto de mim sugeriu que fôssemos para a sala um pouco. Levantei-me entre contrações com a ajuda dele, caminhámos na direção da sala…

…Consegui apenas sair da porta do quarto e chegar à entrada da nossa casa onde me sentei no chão com a chegada da contração. Sentei-me novamente em baddha konasana com o Sérgio a apoiar, a Marta a dar massagens…
Senti-me muito apoiada, segura, rodeada de amor.
O dia começava a nascer e as coisas começaram a avançar mais rápido. Fomos para a sala (para eu sair do chão e da entrada da casa 😆) sentei-me perto da piscina em frente ao nosso altar com o Sérgio a abraçar-me.
De repente começo a sentir uma força a querer puxar.
Umas contrações depois e rebentou a bolsa.
Apressaram-se para encher a piscina, e quando estava pronta convidaram-me para entrar se sentisse e eu entrei.

Todas as sugestões durante todo o parto foram super cuidadosas sempre a respeitar o meu querer, sentir. Volta e meia recebia palavras de apoio “é isso Vanessa estás a ir bem”.

Sentia uma maior intensidade em cada contração, uma força a vir dentro de mim a puxar para baixo incrivelmente forte. Mantinha a respiração e em cada expiração um roar selvagem saía. Libertei-me, deixei a mulher selvagem dentro de mim sair.

Em momento nenhum do parto pensei no tempo, me senti cansada, pensei se estava a evoluir ou não, ou duvidei de mim. Estive sempre presente em cada sensação do meu corpo. Não importava o que estava a acontecer à minha volta. Mergulhei em mim, nas sensações, uma meditação profunda onde o tempo deixou de existir.

A Sónia sugeriu que tentasse sentir a minha bebé. Quando senti a cabeça fiquei em extase e wow. Não conseguia acreditar que ela estava ali tão perto. Fiquei emocionada e tão feliz por estar tão perto de conhecer a minha bebé.

Foram preciso mais umas contrações para o corpo e a bebé se ajustarem.
Uma contração senti que puxei mais do que devia, comuniquei com a Sónia e ela relembrou-me para não puxar mais do que o corpo pede. Viu que ainda tinha um pouco de colo que com mais uma contração saiu.
Em vez de puxar voltei ao foco de respirar e deixar o corpo puxar, sair do caminho e deixar as coisas acontecer.
Umas contrações depois sinto a Aria a sair, eram 8h57.
Maternidade

Fui buscá-la debaixo de água e trouxe-a para o meu peito, uma imagem que sempre tive em sonhos, visualizações era agora realidade.

O Sérgio ao nosso lado sempre.

Nasceu a Aria, nasceu uma nova Mulher, uma mãe, um pai, uma família.

No meu peito ofereci mama e ela aceitou, de forma tão natural e instintiva que nem me deu tempo para duvidar das minhas capacidades. Ficou a mamar até sair a placenta, cerca de 45 min depois e o Sérgio cortou o cordão cerca de 1h depois dela nascer.

Eu ainda estava a tremer e em êxtase com tudo o que aconteceu, a nossa menina estava cá fora, e tive uma experiência tão maravilhosa apesar de intensa.

Não queria acreditar na energia que tinha depois de ter ficado a noite toda acordada, na felicidade e amor que sentia.

Que depois de tantos desafios aconteceu. Conseguimos o parto natural, em casa e dentro de água. Que a Aria estava connosco, cheia de saúde.

Trouxe ao Mundo a nossa menina na mesma energia que a fizemos, em amor, entrega e segurança.
❤️

Fotos: www.magicfotografia.pt

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