O Nascimento da Elisa 25.02.2023 (Pais Júlia & Pedro)

“Querida Elisa,

O teu nascimento foi algo tão natural como a vida em si mesma: maravilhosa, difícil, misteriosamente certa. O sinal começou 1 semana antes e quando foi hora estava pronta para te receber. As contrações em 30min ficaram de 3 em 3 minutos e muito intensas, e eu sabia que já não íamos sair de casa. Quando a Sónia, nossa parteira, chegou até nós a dor que eu sentia serenou de uma forma que não consigo explicar e talvez tu, Elisa, tenhas sentido o mesmo, porque imediatamente começaste a escorregar cá para forma, ainda na bolsa. 

Não há palavras para descrever a sorte que senti, e que se reflete ainda, de estarmos em casa quando nasceste, de poder contar com a presença e o carinho do teu pai em todas as alturas, do apoio da tua tia, e da tua mana poder ter sentido a tua chegada com a maior naturalidade, encaixando os momentos todos como um puzzle, sem ausências, e com conforto. Vamos vivendo esta história com um início sortudo e corajoso, porque confiámos em nós e nas nossas decisões, e é isso que importa verdadeiramente. 

Obrigada Sónia e Tássia por terem estado connosco com uma vocação tão pura, tão precisa e tão verdadeira.”

A tua mãe Júlia

O Relato na perspectiva da Parteira

A Júlia e o Pedro chegaram à primeira consulta comigo em 20 de Julho de 2022 – pouco depois da notícia de uma gravidez a caminho.

Com eles, principalmente com a Júlia, vinham algumas marcas menos positivas da história do parto anterior: “quando soube da gravidez…senti um abismo…medo do parto” (Júlia).

O parto anterior foi um parto Eutócico – vulgo parto normal (sem instrumentação por ventosa ou forceps). Tinha sido um parto sem analgesia por opção materna, e apesar de ter sentido algum apoio e respeito durante o parto, a fase expulsiva foi muito desafiante, tendo terminado o seu parto na posição ginecológica (deitada),  com uma episiotomia (corte na vagina/períneo) e uma hemorragia.

Para este parto, Júlia sabia sobretudo o que não queria…não queria sentir-se pressionada para parir.

Quanto ao queria, muitas dúvidas, principalmente em relação ao local de parto. Sentia que em casa, com uma equipa da sua escolha teria mais probabilidade de ter o parto que queria, mas tinha muitos medos e dúvidas quanto à segurança desta opção, principalmente tendo vivido uma situação de hemorragia no parto anterior e vivendo a uma distância do hospital considerada razoável mas que na sua cabeça não era segura. Sentia também que podia ser uma opção não compreendida pela família.

As consultas foram acontecendo, ouvindo, esclarecendo, diluindo medos, construindo confiança no seu corpo, na sua capacidade de parir (independente do local que iria escolher para parir), até que conseguiu escolher a opção casa como sua opção para parir, uma escolha com confiança ainda que respeitando os medos que sentia (que são totalmente válidos).

O dia do Parto

Júlia às 6h30 envia mensagem, referindo ter tido algumas contrações durante a última hora a cada 20 min (aproximadamente) e que entretanto ja estavam a ficar de 7/8 minutos mas ainda irregulares e curtas.

Dado que a viagem era de 1h30, não demorámos muito a decidir que deveríamos ir mesmo que fosse um falso alarme.

Pouco depois das 8:30 chegamos e encontrámos a Júlia deitada de lado, serena, apesar de se perceber que as contrações existiam e eram já regulares.

Convidámos a levantar…ao movimento, e assim que a Júlia se levantou se percebe que as contrações ganham outra intensidade mas sem que a Júlia saia da sua serenidade. Referiu frio, e convidámos a mudar-se para outra divisão onde existia a lareira acesa…rapidamente começa a referir calor, cada contração e cada som vai ficando diferente e percebe-se que talvez não falte muito (não foi efetuada nenhuma avaliação vaginal).

9:20 Júlia refere “sinto qualquer coisa a querer sair” e confirmámos que já era visível a bolsa de água a querer exteriorizar.

Sente-se que pela perceção que a expulsão “era agora” veio algum receio e também a pergunta “tenho de puxar?”, pergunta que foi prontamente respondida que não, que fizesse apenas o sentisse vontade de fazer.

A frequência cardíaca da bebé esteve sempre perfeita, não havia qualquer razão para apressar o nascimento.

A cada contração, apesar da serenidade da Júlia, percebe-se um pouco de tensão, convidámos a que experimentasse outra posição (a imersão em água já tinha recusado). Júlia muda para joelhos no chão intercalando com um 4 apoios por apoio na lateral da banheira ou no Pedro.

Vizualiza-se a progressão lenta da bolsa de água para o exterior seguida da cabecinha da bebé, um pedacinho de cada vez, muitas vezes num efeito io-iô, para dentro e para fora. Júlia mantém a serenidade mas procura de tempos a tempos a confirmação se está tudo bem.

Depois de 30 minutos nisto, num impulso o reflexo de ejeção fetal acontece e cabeça da bebé é expulsa dentro da bolsa (com muito pouca ou nenhuma força materna) num momento em que a mãe sai da posição de joelhos para de pé. Os lábios da bebé mexem, sinal de um bebé ativo e com saúde. Na contração seguinte acontece a rotação do corpo e expulsão total, totalmente dentro da bolsa, com o rompimento desta apenas no final da expulsão. A bebé trazia uma circular de cordão que se resolveu facilmente e depois na entrega da bebé à mãe (pelo meio das pernas) esta se enrola de novo e obriga a nova resolução.

A Elisa vai assim direta para o peito da mãe onde se sentiu segura, quente, aconchegada e onde foi alimentada, amamentada em contacto pele a pele.

O Parto foi mágico mas não isento de complicações, uma laceração do cordão umbilical diagnosticada e resolvida, assim como uma hemorragia pós-parto também resolvida. Apesar das complicações e da necessidade de gestão das mesmas, com a possibilidade em cima da mesa de uma necessidade de transferência (o grande medo da Júlia na gravidez), Júlia manteve-se sempre calma, serena e confiante, assim como Pedro, um grande pilar e apoio durante todo o processo. Depois de tudo estabilizado, Júlia referiu que apesar da ocorrência das complicações não sentiu em nenhum momento, tanto medo, como tinha sentido no primeiro parto.

Ao segundo dia pós-parto ocorreu a necessidade de referenciar Júlia para a urgência obstétrica no sentido de avaliar o impacto da hemorragia e necessidade de reposição de ferro. Foi bem acolhida, recebeu a administração de ferro e voltou para o seu lar, para a sua bolha de amor, e transmitiu-me que apesar da necessidade de ir à urgência a ter abalado um pouco, mantinha a confiança de viver um possível terceiro parto da mesma forma:

Ainda em relação ao que aconteceu ontem (dia que foi à urgência), ao nosso parto, à vossa ajuda e à forma como molda a minha vida e minha forma de maternar(…)Espero reconstruir, restituir, a confiança tão plena que senti estes dois dias, muito graças a ti, ao apoio que tive do Pedro e da minha irmã, e à presença da Tássia. Talvez daqui saia algo mais forte. E que no meu próximo parto possamos estar juntos de novo nessa confiança.” (Júlia)

E é isto, nem todos os partos domiciliários são maravilhosos do início ao fim, existem complicações sim, apesar de estatisticamente menos prováveis que em ambiente hospitalar. O que resulta, no entanto, de uma experiência vivida em confiança e harmonia, é um empoderamento que não se explica mas que se sente!

A decisão e escolha pelo parto domiciliário deve ser sempre precedida de uma acompanhamento pré-natal bem cuidado pela Enfermeira EESMO/Parteira que vai acompanhar o parto, com quem os benefícios e riscos, vantagens e desvantagens, devem ser discutidos, até chegar ao melhor plano de parto adequado a cada mulher/casal.

Grata à Júlia e ao Pedro pela confiança que em mim depositaram e pela generosa partilha de imagens tão íntimas.

Quer saber mais sobre como uma Enfermeira EESMO/Parteira a pode ajudar a definir o seu melhor plano de parto, a esclarecer as suas dúvidas, a diluir os seus medos e a contribuir para construir a sua confiança? Ou mesmo sobre parto no domicílio?

Agende consulta de vigilância e aconselhamento Pré-natal.

Fotos e vídeo: Razão d’Ser, partilhados com autorização dos pais.

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