O Nascimento do Pedro: 1º filho da Razão d’Ser 17.01.2000

(Pais Sónia & Sílvio Rocha)

O Pedro é o primeiro filho de relação de amor, fruto de uma gravidez planeada e desejada, que aconteceu na primeira tentativa e decorreu sem percalços, apesar de ter sido informada em consulta médica que teria dificuldades em engravidar e que provavelmente abortaria na primeira gravidez. Isto marcou os primeiros 5 meses de gravidez pois o medo da perda era muito presente, ainda por cima por estar em processo de luto por outra perda importante (o meu pai tinha falecido 4 meses antes).

 

A gravidez trouxe-me uma felicidade gigante, tinha 22 anos e sempre quis ser mãe jovem mas apesar disso não lhe consegui dedicar a tenção merecida, pois sendo enfermeira e acreditando na máxima “gravidez não é doença” vivi a gravidez a um ritmo acelerado…trabalhando imenso (estava no início da carreira e trabalhava cerca de 60h/semana ou mais), e mantive esse ritmo até às 38s.

 

Quando parei às 38s, percebi que precisava estar grávida mais 9 meses…ou pelo menos mais um bom tempinho para poder usufruir daquilo que o ritmo acelerado não permitiu. Consequência ou não, o trabalho de parto espontâneo e natural que tanto desejava, teimava em não aparecer.

Gravidez do Pedro

O médico que acompanhava a gravidez, conhecido por induzir o parto às 38s para que “os bebés não engordassem demais”, em consulta dizia que o bebé estava mal posicionado (estava de cara para a frente – hoje sei que era uma apresentação posterior/sagrada), tinha 2 circulares de cordão (ainda hoje tenho dificuldades em perceber se ecograficamente é possível esta precisão), que eu não tinha qualquer sinal de dilatação (colo uterino inteiro e fechado), pelo que contrariamente ao seu habitual, dizia não haver condições para induzir o parto, apesar do bebé às 38s já ter um peso estimado de 3200gr.

 

Eu como mulher, nunca tive medo do parto e na gravidez brincava que ele ia nascer em casa ou no carro, dado eu considerava que iria estar tranquila e sem medo durante todo o processo e iria tentar ir o mais tarde possível para o hospital. Também, não tinha medo da indução apesar de não ter conhecimento sobre as grandes diferenças no resultado quando comparamos partos espontâneos com partos induzidos.

 

No ano 2000, nem se ouvia falar na possibilidade de planear um parto no domicílio, e apesar de eu desejar essa realidade planeei um parto hospitalar, sendo que escolhi o Hospital Pedro Hispano, que na altura era um dos poucos (senão o único) que permitia a presença do pai durante o trabalho de parto, apesar de que o pai do Pedro morria de medo dos hospitais e não tinha a certeza de querer ou conseguir estar presente. Mas claro…ou era ele a estar ou estaria sozinha, não me via a partilhar esse momento com qualquer outra pessoa.

 

Chegam as 41 semanas e 3 dias, e claro já fui à consulta com a mala pronta, dada a probabilidade de ficar internada para induzir (apesar de na altura não haver a pressão para induzir às 41s), e ouço novamente que apesar de ser para induzir o mais provável é que seja um parto longo (o médico saía às 19h e disse-me que já não estaria presente no parto) e que tinha uma elevada probabilidade de terminar em cesariana, dado que tudo se mantinha como nas consultas anteriores.

 

Como enfermeira, eu tinha algum conhecimento sobre as intervenções de rotina num parto, e nessa altura aceitei como normal essa possibilidade, ou seja, na minha cabeça estava “se tem de ser assim é assim que vou conseguir”. 

 

Foi feita indução com prostaglandinas em gel, aplicadas no colo do útero, por volta das 10h30 da manhã, e as contrações começaram pouco depois. Contrações que eu geria bem com respiração e viagem interna até ao meu bebé…dizia-lhe em pensamento “ faz a tua parte que eu faço a minha”, “eu não quero uma cesariana, mas se tu precisares que seja eu aceito”.

 

O pai fez questão de estar presente, sem ter a certeza se se manteria aquando da expulsão. Esteve calmo e tranquilo, mas foi uma fonte de preocupação, pois eu estava sempre a avaliar se ele estava bem!

 

Tive de ficar restrita à cama e só sentia…se eu me pudesse levantar! Sentia as contrações na zona lombar e só me lembrava do que a minha avó me contava “os partos de rins (ou seja, dores nas costas) são os piores”, hoje sei que é mais provável que as contrações sejam sentidas nas costas nos bebés posteriores.

 

Tive de ter monitorização contínua da frequência cardíaca fetal, e claro, mesmo hoje em dia, sendo uma indução faz sentido. No entanto, dado ser um bebé posterior de vez em quando deixava de se ouvir os batimentos, hoje sei que por dificuldade de captação do aparelho, na altura, a parteira quando colocou disse-me que devia estar atenta e se deixasse de ouvir para chamar, logo mais um fator de stress a gerir.

 

Era um sábado e na altura a epidural estava apenas disponível durante o dia e à semana, nunca tinha dito que pretendia fazer epidural, eu continuava a querer um parto o mais natural possível e sentia-me capaz disso, pelo que nem me importei com essa condição. Mas às 13h, chega um anestesista junto de mim para me fazer epidural, estranhei e disse-lhe que não tinha solicitado, ele refere que foi o médico que me seguia e me induziu que lhe tinha pedido por eu ser enfermeira. Voltei a dizer que estava bem e não tencionava fazer enquanto não sentisse que precisava, ele insistiu ameaçando que depois não seria mais possível. Perguntei se podia por só o cateter e faria a medicação apenas se viesse a sentir necessidade – aceitou e colocou o cateter.

 

Pouco depois da colocação do cateter o médico veio e rompeu artificialmente a bolsa de água, as contrações aumentaram de intensidade e frequência e mais uma vez eu só pensava “se me pudesse levantar”.

 

Às 17h, depois de várias vezes me terem pressionado para fazer a medicação, comecei a sentir que estava a atingir o meu limite e aceitei. Estava com 7cm (que mãe de primeira viagem, parto induzido e com um bebé numa posição não favorável – UAU), disseram-me que tinha de mudar de sala para então fazer a medicação pelo cateter epidural, pedi para ir a pé e assim também ir ao wc, lá autorizaram a custo…, mas que bem que soube aquela pequena amostra de liberdade.

 

Após fazer a medicação, fiquei a sentir o meu corpo e as contrações, mas sem o desconforto associado, e lembro-me de comentar com o meu marido, não sei se vou conseguir assim, é tão estranho não sentir…

 

Descansei um pouco, e por volta das 18h e qualquer coisa, avaliam-me e dizem-me que tenho dilatação completa e posso começar a puxar. Começo a tentar puxar, e verbalizo, mais uma vez, para o meu marido, que não sei o que estou a fazer ou se estou a fazer bem. Entretanto aos poucos começo a recuperar alguma sensibilidade e chegam também profissionais para dar início, oficialmente, ao período expulsivo. Pedem-me para me posicionar em posição ginecológica – deitada com as pernas nas perneiras, e começar a puxar de forma síncrona com as contrações e em apneia.

 

Pouco tempo depois peço água, por ter a boca seca, negam-me, mas eu EXIGO beber e lá acedem. Alguém sobre para cima de mim, empurrando o fundo do útero e em simultâneo empurrando-me contra a cama – EXIGO que parem, e vá lá que me respeitaram!

 

Sinto uma pressão enorme dentro de mim, sinto a tesoura que me corta e depois um alívio! Colocam-me o Pedro, em cima da barriga – eram 18h50, e foi a emoção mais forte que senti até hoje! Ele não chora de imediato e tem uma cor roxa (hoje sei que é normal), fico preocupada e nem questiono quando o tiram de cima de mim, ouço-o chorar quase de imediato a essa separação enquanto alguém o observa dentro da mesma sala.

 

Entretanto entra o médico que me tinha induzido o parto e diz “já nasceu??? Como é possível???” e como estão a pesar o Pedro, pergunta o peso e quando lhe dizem 2950gr, ele exclama “Só???” pois acreditava que o Pedro iria nascer com 4kg ou mais.

 

Sai a placenta, sou suturada e o Pedro volta para mim! Ficamos naquela bolha de amor e lá me desenrasco a amamentar. Estou cansada, dorida, mas empoderada pelo resultado, por ter sabido defender os meus interesses quando necessário e deslumbrada com aquele ser pequenino que me olhava com uns olhos de um azul intenso que mantém até hoje.

 

Não me consegui sentar durante 15 dias, dada a dor pela episiotomia. Vivi dificuldades na amamentação, com fissuras gigantes, dificuldades na pega, um ingurgitamento mamário horrível e um bebé que tinha uma enorme dificuldade em dormir (provavelmente porque a mãe nunca o deixou dormir sossegado na barriga com as noites que trabalhava) para a quais nunca tive apoio, mas lá descobrindo como resolver.

 

Grata a esta experiência que me tornou mãe, distante da visão do parto sonhado, mas ainda recordada como uma das melhores experiências da minha vida!

Pedro e Mãe
Pedro acabado de nascer
Pedro e o Pai
Pedro aos 6 meses
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