O Parto em Casa e o Acompanhamento por Enfermeira Parteira (EESMO)

O Dia Internacional da Parteira comemora-se no dia 5 de Maio em todo o mundo e porquê? Porque em todo o mundo se reconhece as competências únicas deste profissional na contribuição para a saúde de mães, bebés e famílias, e por consequência se salvam mais vidas humanas e com mais saúde e qualidade de vida.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que todas as grávidas sejam acompanhadas por uma parteira de forma contínua desde a gravidez ao pós-parto, sendo este o modelo que demonstra melhores resultados obstétricos e neonatais. Mesmo quando falamos de grávidas com fatores de risco ou patologias importantes, demonstra-se pela evidência científica que manter o acompanhamento por parteira em simultâneo com outro profissional de referência na patologia obstétrica (médico obstetra) faz diferença, para melhor, nos resultados obstétricos e neonatais, assim como na satisfação materna e familiar.

O modelo de continuidade de cuidados por parteira define-se pelo facto da mulher ser acompanhada por uma parteira (em Portugal é representado pela Enfermeira(o) Especialista em Saúde Materna e Obstétrica – EESMO) ou por um grupo restrito de parteiras (para facilitar intersubstituição) na gravidez, no parto e no pós-parto. Em muitos países que aplicam e defendem este modelo, a grávida de risco normal é acompanhada somente pela sua parteira (só vai ao médico referenciada pela parteira se algum fator de risco adicional surge) e independentemente do local de parto que escolhe: parto em casa, casa de partos (um local de nascimento liderado por Parteiras e que ainda não existe no nosso país) ou no Hospital, a sua parteira acompanha-a e tem direito ao acesso à instituição em causa se for o caso, continuando a ser a parteira da mulher, trabalhando em colaboração com a equipa dessa mesma instituição, não se perdendo assim a continuidade de cuidados.

Em Portugal, até ao momento, isto não é possível. A maioria das mulheres nem sequer sabe dos benefícios do acompanhamento por uma parteira ou sequer conhece alguma, não é um acompanhamento oferecido pelo sistema nacional de saúde, ou seja, apenas está disponível de forma privada e em número muito reduzido no país.

As mulheres que procuram o acompanhamento por parteira procuram-no na maioria das vezes porque pretendem um parto em casa, outras quando descobrem esse acompanhamento e o preferem em paralelo com um acompanhamento com outros profissionais ou de forma isolada, acabam por escolher um parto em casa para manter a continuidade de cuidados ou no mínimo um acompanhamento da parteira em casa até uma fase tardia do trabalho de parto, parindo depois no hospital da sua escolha. Em Portugal, a parteira escolhida pela mulher não tem acesso a acompanhar a mulher dentro do hospital, exceto como acompanhante escolhido pela mulher em detrimento de outro acompanhante, nomeadamente o pai do bebé, e memso que seja essa a escolha a parteira contratada pela mulher tem um papel de acompanhante, idêntico a um papel de doula, mas sem poder na decisão clínica (no entanto, em comparação com uma doula, poderá aconselhar a mulher sobre propostas de intervenção pois pode avaliar clinicamente a sua indicação).

A Parteira (EESMO) tem autonomia para vigiar clinicamente uma gravidez e um trabalho de parto, sendo apenas necessário o envolvimento de outros profissionais se ocorre algum desvio da normalidade.

No modelo de continuidade de cuidados por parteira, a mulher é o centro dos cuidados, o que ela deseja, o que ela procura é o que mais importa, e a função da parteira (EESMO) é apoiando essas escolhas não deixando de alertar e aconselhar sobre a possível segurança ou insegurança das mesmas.

Na sua consulta, a parteira tem um olhar clínico diferente de outros profissionais, é um olhar baseado nos fatores de saúde (modelo salutogénico) nunca descurando obviamente os fatores de risco e/ou sinais ou sintomas de complicações. Para além disso, parteira está atenta não só à  informação clínica da saúde física (análises, ecografias, tensão arterial, entre outros exames físicos) mas também à saúde emocional da mulher, nomedamente a sua relação com o pai do bebé, relação com a família e realções sociais; como se define em termos personalidade e resiliência a desafios; que influência têm as opiniões de quem a rodeia sobre o que ela quer, deseja ou acredita; que mitos e crenças carrega sobre gravidez, parto, pós-parto e amamentação; como foi a sua história de nascimento e das pessoas que a rodeiam; que medos carrega e qual o balanço entre medos e confiança.

Nós não somos apenas um corpo físico que gesta e vai parir, como algo que acontece de forma mecânica. Qualquer fêmea mamífera na natureza, para gestar e parir com qualidade, precisa acima de tudo se sentir segura, pelo que quando a mulher carrega com ela medos (dela própria ou incutidos por terceiros, família, amigos, sociedade ou mesmo profissionais de saúde com uma visão de saúde centrada no risco) entra num modo de alerta, de “luta ou fuga”, exactamente igual a um animal que instintivamente se sentiu em perigo. Este estado na gravidez e/ou durante o parto ou pós-parto aumenta o risco de complicações pois o corpo desvia a energia/sangue para os orgãos envolvidos no modo “luta ou fuga” (musculos das pernas e braços, coração e sistema respiratório) para que tal como o rato foge do gato tenhamos a capacidade de lutar ou fugir do perigo que sentimos. Os orgãos reprodutores não estão envolvidos no modo “luta ou fuga” logo estarão sujeitos a privação de energia/sangue tão necessário a uma gravidez, parto e pós-parto saudáveis.

A Parteira (EESMO) tem assim uma visão integrativa e holística da saúde da mulher, promovendo uma fisiologia saudável e apoiando as escolhas da mulher e da família. Este profissional pode e deve acompanhar uma mulher de forma contínua desde a gravidez ao pós-parto mas também pode ter um contributo positivo único na sua saúde e do seu bebé, numa preparação pré-natal ou apenas numa única consulta na gravidez ou pós-parto.

Em comemoração do dia internacional da Parteira – 5 de maio, pedimos a mulheres, homens e até crianças que viveram uma experiência de parto em casa e de acompanhamento contínuo na gravidez, parto e pós-parto. Vale a pena visualizar o vídeo!

Agradecemos a todos os participantes por autorizarem a partilha pública .

Se pretender saber mais sobre o acompanhamento contínuo por uma parteira (EESMO) independentemente do local que escolha para o seu parto contacte-nos.

Fotos:

www.magicfotografia.pt

www.ritarocha.com

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