O Nascimento da Isabela…a minha 4ª experiência de Parto 24.08.2020 (Pais Sónia & Sílvio Rocha)

O planeamento:

A Isabela é uma bebé arco-íris…bebé concebida após uma perda gestacional de uma gravidez planeada, perda essa, precoce, mas que ainda assim deixou marcas emocionais que marcaram a gravidez da Isabela.

Como mulher sempre desejei ter uma família numerosa com, no mínimo, 3 a 4 filhos (mais 4 que 3).

Como parteira após o nascimento da minha 3ª filha – Clarisse) ficou muito desejo de repetir novamente a experiência de um parto natural com a possibilidade de experimentar um parto na água para perceber a diferença (profissionalmente falando, pois da Clarisse preferia o parto em terra e durante o parto não senti vontade de usar a água). Por outro lado, sempre quis ser totalmente autónoma nos meus partos e inclusive ser “parteira” de mim mesma, apesar de ter parido a Clarisse sem qualquer intervenção profissional (as parteiras chegaram imediatamente após o nascimento) fui mais mãe que parteira, tentei examinar-me a mim própria, não consegui, desisti e entreguei-me ao parto, do qual resultou uma experiência magnifica e extremamente prazerosa por ter entrado a 100% na partolândia mantendo apenas um pouquinho do consciente ativo.

Como mãe, senti que o ter dado uma irmã aos meus filhos mais velhos (na altura com 17 e 14 anos) foi uma experiência magnifica e enriquecedora para ambos. Dar oportunidade à Clarisse de viver o mesmo e de ter uma irmã ou irmão com idade similar à dela também só o podia ser. Sentia, também, que permitir-lhe vivenciar a experiência de parto da irmã seria provavelmente a melhor experiência que podia oferecer a ambas e à futura relação entre elas.

E assim, surgiu a gravidez da Isabela, planeada aos 42 anos e nascida nos meus 43 anos. Engravidei (novamente, na primeira tentativa) no fim de Novembro, portanto, gravidez confirmada a meio de Dezembro (4s de idade gestacional) mas cuja linha fraquinha no teste de gravidez me fez repetir o mesmo várias vezes, o que nunca fiz em nenhuma outra gravidez e ainda assim querer confirmar ecograficamente a gravidez antes de dar a noticia (o que também nunca senti necessidade nas gravidezes anteriores) – impacto da perda gestacional anterior. Aproximava-se o dia de aniversário da Clarisse – 25.12, e sentia que seria especial oferecer à Clarisse (e aos outros irmãos) nesse dia a notícia de um novo irmão a caminho, pelo que, realizei consulta com ecografia a 23.12 (5/6s) para confirmar a gravidez e assim a poder partilhar – resultado da Eco: apenas visível saco gestacional, sem embrião, sem vesícula vitelina. Por um lado, sentia que estava tudo bem, que era de ser cedo, mas por outro, o medo da possibilidade de gravidez não evolutiva estava lá bem presente! Na gravidez da Clarisse tinha tido perdas de sangue às 6 semanas e já era visível embrião e batimentos cardíacos, como agora aceitar como normal apenas um saco gestacional possivelmente vazio???

A notícia:

Depois de 2 dias a meditar sobre o assunto, a sentir no meu coração que desta vez estava tudo bem, conversei com o meu marido e decidimos que eu faria o que sentisse no dia 25.12, se quisesse contar da gravidez o iria fazer e depois lidaríamos com o que acontecesse no futuro. Embrulhei uns carapins de bebé e guardei a prendinha até sentir se seria ou não o momento de partilhar o meu bebé com o mundo exterior.

Dia 25 chegou, a Clarisse vibrava com a sua festinha de aniversário junto com o Natal. A fotógrafa Rosa da Magicfotografia, tinha vindo fotografar e como tal resolvemos recriar a foto de família feita no dia de nascimento da Clarisse. Como criança de 3 anos, a Clarisse já não estava muito interessada em fazer a foto e nesse momento, simplesmente, resolvi que talvez fosse o momento! Fui buscar a prendinha especial e quando regressei disse-lhe que a mãe tinha uma prendinha para ela depois da foto e assim foi, ela abriu a prenda e diz: “mas isto é para um bebé não é para mim!” Até que todos percebessem de que se tratava demorou uns segundos, mas foram uns segundos deliciosos ao perceber o misto de surpresa e agrado nos irmãos e na família mais próxima que estava presente.

O 1º trimestre:

A gravidez evoluiu super bem, mas o meu coração palpitava de intranquilidade, sempre que ia ao wc, sempre que sentia cólica a nível pélvico, pois estava sempre à espera de uma possível nova perda. Às 8s de gravidez tive um acidente de serviço com uma queda monumental do cimo de uma cadeira…mas o que mais me atormentou não foi a dor de cabeça abismal (caí inclinada com a cabeça para o chão) ou possível traumatismo craniano…só me lembrava do meu bebé! O primeiro trimestre foi desafiante emocionalmente com esta sombra da perda resultando em náusea, muita azia, refluxo e pouco descanso, mas o tempo foi passando e o meu bebé estava cá para ficar!

Final do primeiro trimestre, altura de exames de diagnóstico pré-natal, com a sombra dos meus 43 anos presente e risco “mais elevado” de cromossomopatias, pelo que tinha indicação para amniocentese, que para mim, como exame de rastreio, estava fora de questão (aceitaria se fosse como exame de diagnóstico por alterações ecográficas). Apesar de esperar um resultado “normal” na ecografia de primeiro trimestre que tranquilizasse o meu coraçãozinho de mãe, ouvi que que tinha alterações que à partida seriam normais e fisiológicas mas que também se podiam relacionar com cromossomopatias – indicação amniocentese ou diagnostico genético pré-natal, optamos por este último dado não ser invasivo. Obtivemos o tão desejado “normal” mas foram mais umas semaninhas de angústia, o aspeto positivo é que confirmámos que tínhamos mais uma princesa a caminho!

A escolha do Nome:

Em todas as gravidezes antes de saber o sexo, já tinha definido nome para menina e para menino, nesta não estava fácil, eu própria não tinha uma preferência e os nomes que me captavam mais a atenção não reuniam grande consenso familiar. Antes de estar grávida, tinha falado cá em casa que tinha visto o nome Isabela e tinha gostado, ninguém valorizou o que eu disse e depois de estar grávida, o nome já não me soava tão bem e ninguém parecia se interessar muito.

No dia da Ecografia, ao saber que à partida seria uma menina, partilhei a notícia ao telefone com o mano mais velho (que era o único que tinha uma preferência assumida por mais uma menina), ele ficou feliz e disse que por ele e pela namorada podia ser “Isabela”. Eu depois de desligar comentei com o meu marido a conversa, a irmã mais velha ouviu e diz que por ela também podia ser, a Clarisse ouve a conversa e diz “Isabela! Que nome tão lindo! É perfeito” e a partir daí não mais permitiu que fosse outro nome…quando eu sugeria outro nome, ora dizia não gosto, ora dizia gosto, mas não quero!

E assim, ficou escolhido o nome Isabela que até deu origem a uma música feita pela Clarisse!

O 2º trimestre:

Entrei no segundo trimestre, feliz, mais estável emocionalmente e fisicamente, mas o medo da perda permaneceu ainda que menor um pouquinho. Lembro que esperar sentir pela primeira vez movimento fetal me gerou ansiedade, e apesar de ter sentido às 15s que é cedo, a mim já me parecia tão tarde!

Por outro lado, surgiu a pandemia covid 19, com tudo o que isso implicou e tem implicado. Tive um contacto de risco e fui obrigada a quarentena profiláctica logo em Março, mais uma coisa para apertar o coraçãozinho de mãe. Felizmente, correu tudo bem e não houve desenvolvimento de sintomas.

Como em tudo na vida, há sempre duas faces da mesma moeda, pelo que o covid 19 não trouxe só coisas más…o papá regressou a Portugal em Março e dado o encerramento de fronteiras ficou por cá, contribuindo para o equilíbrio emocional que faltou na gravidez da Clarisse.

Fisicamente começam a surgir alguns desafios. A idade, o peso (comecei a gravidez bem acima do meu peso habitual), a sacroileíte que começou a evidenciar-se, o cansaço fácil com pequenos esforços. Resultado, só estava bem em repouso e às vezes nem assim.

Apesar destes desafios emocionais e físicos, o facto de me sentir apoiada, ter oportunidade de descansar sempre que necessário, foi contribuindo para uma sensação de paz e tranquilidade que nunca atingi em nenhuma gravidez anterior.

A Isabela, apesar de se ter feito sentir às 15s, mexia muito esporadicamente e com movimentos muito suaves, muito diferente dos irmãos! Pensamentos que assombram: Apenas um bebé diferente? Ou será que não esta tudo bem?

O 3º Trimestre

O que define este trimestre? Cansada…Cansada…Cansada…

Cansada por mal me conseguir mexer, para mudar de posição era uma tortura, com dias de dor sacroíliaca insuportável… 

Cansada por mal conseguir andar sem ficar taquicardica e taquipneica (falta de ar)…

Cansada de tantas contrações cada vez mais frequentes, intensas e desconfortáveis…

Cansada do calor que se fez sentir…

Cansada de pensar “será que esta tudo bem?” pois a Isabela mexia tão pouco que o medo da perda vinha ao de cima frequentemente…apesar disso, o meu coração dizia-me que estava tudo bem e que o comportamento dela era apenas o reflexo de uma gravidez mais calma, em que me sentia mais apoiada e ainda mais amada…

Cansada de esperar que a gravidez passasse, de todos os dias idênticos, principalmente gerados pela necessidade de confinamento, e de apenas querer conhecer a minha princesa…

Maternidade
Maternidade

O parto:

Feliz muito feliz por atingir as 37 semanas, estava tão cansada de estar grávida que sentia que o mais provável era o parto ocorrer antes das 40s…Só queria que a Isabela esperasse pelo pai que após abertura de fronteiras viajou com data prevista de regresso às 38s. O pai acabou por regressar mais cedo, por possível novo encerramento de fronteiras, o que foi delicioso.

Todos os dias, a contractilidade era frequente e intensa, sempre a fazer-me pensar será hoje? Mas nada acontecia…Da Clarisse também tinha muitas contrações, mas apenas em esforço. Da Isabela sentia contrações a todo o momento, em esforço, em repouso, dentro de água, a amamentar a Clarisse então (às vezes tinha mesmo de pedir à Clarisse para parar de mamar).

Dia 14.08, acordei com uma energia incrível…fiz sobremesas, planeei a possibilidade de fazer um jantar no dia seguinte com os padrinhos da Isabela e de repente lembrei o que aprendi com uma parteira…quando isto acontece, habitualmente o parto acontece no máximo até 10 dias depois!

Os dias foram passando…as 40 semanas passaram e nada de Isabela…comecei a preparar-me para uma possível gravidez prolongada…mas eis que às 40s e 3 dias a Isabela me presenteou com o seu nascimento!

Dia 24.08, acordei para mais um dia…como da Clarisse o parto começou às 6h, todos os dias ao acordar normalmente pensava…mais um dia e não é hoje (na verdade o parto pode começar a qualquer hora…mas a nossa cabeça funciona assim). Sentia-me um pouco diferente, mais cansada, menos paciência, mais farta ainda de estar grávida. Como habitual, estiquei-me no sofá, mas sentia que não estava bem em lado nenhum.

A Clarisse queria brincar…eu sem vontade nenhuma, começou a pedir então que fizéssemos um bolo, lá me levantei e fui para cozinha com ela, para a entreter. Fizémos o bolo, e após isso resolvi arrumar a cozinha, com limpeza das portas dos armários, balcões bem limpos e arrumados…etc, a pensar tenho que me mexer (a maior parte do tempo desta gravidez foi passada entre cama e sofá) senão ela nunca mais nasce…mas ao mesmo tempo, a sentir que não me estava a custar fazer todo aquele movimento e até me estava a saber bem arrumar – hormonas de preparação do ninho a fluir!

Acabando a limpeza estava exausta e ensopada em suor, convido a Clarisse para um banho na banheira, estivemos lá, uns 30 minutos, onde tive as contrações habituais. Saí, vesti um pijama e fui para o terraço, onde me deitei num cama de rede (por volta as 18h/18h30), acabei por dormitar e acordo com uma contração que senti como mais intensa  e duradoura que as habituais. A novidade era também ter tido a dormir, o que até em então ainda não tinha acontecido. A seguir à primeira vem outra e logo de seguida outra, decido cronometrar e percebo que duram cerca de 1 minuto, com intervalo de 5 minutos no máximo…será???

Observo que na contração é notório o volume da Isabela à direita do meu corpo – primeira avaliação profissional de mim própria, é uma apresentação direita anterior (A Isabela tinha predileção pelo lado direito embora às vezes se posicionasse à esquerda).

19h12

Decido enviar uma primeira mensagem à equipa que talvez estivesse em trabalho de parto, mas que em breve daria notícias.

As contrações continuam de 5 em 5 minutos e percebo que é para acontecer. Jantar pronto feito pela minha mãe, mesa posta e o meu marido pergunta se quero jantar. Sento à mesa, ainda consigo comer qualquer coisa entre contrações (nas quais tenho que ajustar posição) mas acabo a ter de me levantar…já não dá para estar sentada.

20h

Envio mensagem à equipa a dizer que não me parece que vá parar, contrações de 50-60s, 3 a 5 min de intervalo.

20h40

Envio mensagem à equipa a dizer que podem vir, mas que não me parece que seja necessário virem de forma urgente.

Envio mensagem à madrinha da Isabela, a informar e a convidar se quer estar presente

O pai começa a arrumar a sala preparar a banheira, eu entretenho-me entre contrações, a preparar o restante viajando entre quarto e sala (casa grande, são os 2 pontos mais distantes entre si)

21h

Fico pelo meu wc, contrações a oscilar entre média/forte intensidade, regulares de 3/3 minutos, resolvo ficar no meu wc, no escuro, para me tentar isolar e entrar na partolândia…nas contrações entoo um cântico para minha bebé, dançando…e sabe tão bem embalá-la!

Sinto que estou bem mais “acordada” que no parto da Clarisse e fico com dúvidas quanto à fase do trabalho de parto em que estou. Resolvo tentar examinar-me “ser a minha própria parteira”, não porque me importasse ser examinada por outros, mas porque era um sonho meu, avaliar e diagnosticar-me a mim própria, aprendendo com isso profissionalmente.

E voilá, Consegui! – Segunda avaliação profissional de mim própria: Colo 3cm e praticamente extinto, ainda não totalmente centrado, mas quase (transição de fase latente para fase ativa de trabalho de parto)

21h27

Continuo no wc, mas agora sem dúvida, as contrações estão bem mais fortes, com 1 min ou às vezes a durar um pouco mais. Pela primeira vez, não sinto a sensação de medo da perda, lembro de pensar não sinto vontade de ouvir os batimentos cardíacos, sinto mesmo que ela está bem!

Mas com as contrações a ficarem mais fortes, de forma tão rápida, e o facto de estar acordada e no “controle”, sinto algum receio de não me conseguir entregar, penso e verbalizo para a Isabela: “podes vir filha, a mamã, não vai ter medo…faz o que precisas fazer, a mamã está qui para te receber”

Envio mensagem à fotógrafa e à realizadora para virem ter comigo ao wc…pois começo a pensar que vai evoluir rápido e às tantas nasce sem registo de imagem.

21h40

Sinto, entretanto, a chegada delas, junto com elas, a parteira, a madrinha da Isabela e a Clarisse, sinto que é gente a mais…mas ok, consigo abstrair-me quando necessário.

A Clarisse vem ter comigo e quer ouvir o batimento cardíaco da mana, consigo falar com ela e ajudá-la, apesar de começar a ser bem difícil alternar entre “partolândia” e realidade, sabe-me bem tê-la presente e permitir-lhe viver o processo comigo tal como tinha imaginado.

Pedem-me para acender mais luz, para melhorar as imagens, permito, mas sinto que me incomoda um pouco, pelo que, passado uns minutos decido que para ter luz mais vale então ir para a sala.

Maternidade
Maternidade

22h

Chego à sala, avalio rapidamente se está tudo como quero…

Decido ver a temperatura da água, acho quente e vou procurar o termómetro para confirmar (cabeça de parteira):  água a quase 40º – peço para arrefecer.

Acendo algumas das velas que ainda não estavam acesas…

As contrações mantêm-se, já sempre fortes e intensas, de 3/3 min, mas dado o curto espaço de tempo decorrido, e eu estar demasiado “acordada”, volta a dúvida se faz sentido entrar já na banheira – não queria andar a entrar e sair, queira entrar quando não tivesse dúvidas que estava próximo o nascimento, pelo que decido ir ao wc. Tento examinar-me e com facilidade consigo avaliar que estarei com cerca de 6/7 cm – 3ª avaliação profissional de mim própria!

Volto para a sala, ainda fico mais uns minutos sem entrar na água, a Clarisse já está na banheira a chamar por mim e farta de mergulhar e deitar água para fora, molhando tudo…falo com ela e peço para não fazer isso e digo que a mamã já vai entrar.

Digo ao papá para chamar a filha mais velha, para assistir se ela quisesse ( o mano sabíamos que não queria) e entro na água.

Avalio a sensação que me dá e gosto! Mas no pico da contração o calor da água dá cabo de mim!!! Ainda equaciono sair…mas resolvo pedir para arrefecerem mais a água – o papá fica nessa logística, sobe e desce escadas…agora abre a agua agora fecha a água…

Ouço a música que o papá escolheu…e adoro a sensação…permite-me desligar viajar e desligar nas contrações.

A Clarisse solicita-me várias vezes..”mamã porque estás de olhos fechados”dou-lhe atenção no intervalo das contrações, respondo sempre ao que me vai perguntando, na contração é impossível! A intensidade aumenta drasticamente e o facto de estar tão acordada faz-se sentir! A Clarisse quer mamar e dou-lhe de mamar no intervalo das contrações…mas a contração começa e tenho de lhe pedir que pare pois não me é possível, parece que aumenta ainda mais a intensidade (mas talvez seja apenas por precisar entregar-me e não conseguir com ela a mamar)

A determinada altura começo a sentir alguma pressão, avalio-me e sinto apenas um rebordo – 9cm (4ª avaliação profissional de mim própria) e talvez isso se note nas minhas vocalizações.

Entretanto, sinto a parteira pegar no espelho e lanterna, e digo-lhe que não vale a pena…ainda não está nessa fase.

O papá de fora da banheira massaja-me as costas e eu que nunca senti vontade de massagem…sinto que me sabe muito bem!

22h35

Sinto que está próximo, pergunto ao papá se quer entrar, ele ainda perde uns minutos a tirar água da banheira…está demasiado cheia, para poder entrar e entra.

Quase não há descanso entre contrações, parece que vou partir ao meio…avalio-me e sinto a dilatação completa, bolsa já sabia que se mantinha íntegra, ela ainda um pouco acima do 3º plano (5ª avaliação profissional de mim própria) e verbalizo ela vai nascer!

Maternidade
Maternidade

Tão depressa o verbalizo como sinto numa contração uma força brutal e a bolsa rompe! A Bolsa rompe mas a força não para aí e percebo que não a consigo parar…inclino-me na banheira para tentar diminuir a agressividade daquela força ao mesmo tempo que colocando a mão na minha vulva, a sinto na minha mão…ainda verbalizo “mais devagar filha” mas ela não fica a coroar…simplesmente a força continua e sinto a cabeça a empurrar brutalmente a minha mão…nasce a cabecinha e espero que me dê algum descanso…mas não…a força brutal continua e sinto-a a sair totalmente deslizando com uma circular do cordão incluída…recomponho a minha posição rapidamente ao mesmo tempo que a seguro e desfaço a circular do cordão. Viro-a para mim, ainda debaixo de água e vejo os seus lindos olhinhos bem abertos, a brilhar para mim, os braços bem abertos, cheia de energia para se impulsionar para o meu peito! Ouço a mana a verbalizar o nome da Isabela, já tinha ouvido ainda antes da saída completa a Clarisse a verbalizar que a Isabela estava a nascer, por isso sabia que ela estava a ver e isso deliciou-me!

 

22h42 Nasce a Isabela diretamente para o meu peito!

 

A Clarisse vibra com o nascimento da Isabela, mantendo-se ao mesmo tempo serena e um olhar cheio de ternura, aproxima-se e mexe-lhe com muito cuidado e carinho! É delicioso de ver!

A avó materna e o irmão mais velho juntam-se a nós para ver a recém-nascida Isabela!

O tempo vai passando, vou tentando amamentar e ao fim de algum tempo ela pega e mama com sucesso!

Passeio a Isabela na água à qual foram adicionadas flores a meu pedido (que em pouco tempo a Clarisse desfez, mas mesmo assim deu cor e brilho ao momento) e sinto-a relaxada e serena, apreciando a irmã e ambiente que a rodeia.

O tempo de descanso é curto e rapidamente se iniciam as contrações para expulsão da placenta, que da Clarisse nem me lembro de as sentir! São mesmo muito intensas e sinto que inclusive me perturba o contacto com a Isabela…não vejo o sangue característico do descolamento placentar apesar das contrações continuarem. Após o cordão parar de pulsar e sentir que pela intensidade das contrações a mesma só podia estar descolada, faço algumas tentativas de extração da placenta…sem sucesso. Espero mais algumas contrações e volto a tentar, examino-me a mim própria algumas vezes e quando percebo que sinto a placenta já sobre o colo uterino, faço tração do cordão, peço a taça que tinha preparado e coloco a placenta na taça (6ª avaliação profissional de mim própria) (sensivelmente decorrida 1h após o nascimento). Após a saída da placenta, a água tinge-se com habitual vermelho e a Clarisse verbaliza “não gosto desta água”, explico que é normal e ela fica tranquila.

23h50

Entrego a Isabela no colinho do pai e saio da piscina, cheia de energia e sem ser necessário qualquer ajuda.

A parteira avalia o meu períneo (avaliação que realmente não seria fácil eu fazer) e constata períneo íntegro.

A mana mais velha foi quem quis cortar o cordão, mas antes de separar a Isabela da Sua “casinha” fizemos a despedida com uma bela fotografia. 

Realizámos os procedimentos da praxe com a minha participação ativa, levantei-me do sofá para o fazer: Peso 3410gr, Comprimento 50,5 cm e perímetro cefálico 34,5 cm.

0h35

Senti que a Isabela estava com frio e optei por vesti-la e mais uma vez a entregámos no colo da Clarisse, a pedido dela, com o apoio dos manos mais velhos.

A Clarisse pediu para cantar os parabéns à mana, lembrámos que tínhamos feito um bolo ainda sem saber o que iria acontecer! O papá foi buscar o bolo trouxe também uns balões que tinha comprado de surpresa e assim cantamos os parabéns de Ano 0 da Isabela!

1h

Despedimo-nos da equipa, amamentei a Clarisse e ela adormeceu exausta! Finalmente eu e o papá pudemos usufruir a 2 da Isabela ainda ao som da música da play list que o papá tinha elaborado…simplesmente delicioso e emocionalmente indescritível!

O papá decide dormir na sala com a Clarisse para me permitir descansar melhor, fomos as duas para o quarto, mas dormir ficou bem difícil pois só queria contemplar enamorada a minha mais recente razaodser.

Resumindo, foi uma experiência de parto de 4h, rápida e eficiente mas também a mais intensa que tive! A palavra que melhor descreve a experiência é mesmo “intensidade”, atribuo à rapidez da viagem, seja do trabalho de parto seja da fase expulsiva (como eu verbalizei no dia, a Isabela nasceu à velocidade do TGV e achava eu que a Clarisse já tinha sido rápida!), seja porque estive bem mais acordada o tempo todo, não me permitindo produzir tantas endorfinas (a nossa morfina endógena) como no parto da Clarisse. Para mim, foi a experiência mais completa, aquela que sempre imaginei para mim, pois descrevo-me como uma pessoa ativa, que não gosta de entregar a outros aquilo que sente ser capaz de fazer, ou seja que gosta de comandar a própria vida!

Dos 4 partos, simplesmente, o pós-parto mais harmonioso e saboroso que estou a viver!

O único incómodo foram as contrações nas primeiras 24h, bem intensas, mas sendo só isso e mais quando amamentava, foi facilmente gerível.

Posteriormente, Zero dor, Zero desconfortos, muita energia, praticamente Zero cansaço apesar de algumas noites dormir pouco (mais pelas minhas insónias que pela Isabela) pois compenso durante o dia quando necessário.

Apoio fabuloso na logística cá de casa, do papá, da avó materna, dos filhos mais velhos está a permitir-me apenas usufruir.

A relação da Clarisse com a Isabela é deliciosa, ela aumentou o número de vezes que mama (o que até me ajuda com o ingurgitamento que costuma ser terrível por estes lados), mas é extremamente compreensiva quando lhe peço para esperar ou lhe digo que em determinado momento não dá.

A Isabela, nas primeiras 48 a 72h, mamava bem, mas depois bolsava imenso e dormia sonos curtos o que se percebia que a incomodava…à medida que foi conseguindo eliminar o mecóneo foi ficando mais calma e a conseguir dormir melhor.

Neste momento mama deliciosamente bem e dorme deliciosamente bem, mas isto significa, ainda assim, intervalos, na melhor das hipóteses, de 1h às vezes 1h30! Mas nada que eu já não esteja habituada da irmã Clarisse. Mas comparando com os irmãos e mesmo com a Clarisse (que já foi mais tranquila que os irmãos) a Isabela é realmente uma bebé com sonos super tranquilos e nos poucos momentos que está mais desperta também revela uma serenidade deliciosa de apreciar!

 

Finalmente, Gratidão profunda:

* ao meu marido que sempre me apoiou ao longo da vida que partilhámos e ainda mais nos momentos mais especiais da minha vida

* a todos os meus filhos com aprendi a ser mãe e a evoluir nesta viagem da maternidade

* à minha mãe pelo apoio que me tem dado ao longo da vida e aos meus filhos, e em especial ao apoio que me deu na gravidez da Isabela e continua dar neste pós-parto

* aos meus clientes, principalmente às mulheres cujos partos assisti e cujas experiências contribuíram para as minhas próprias experiências de parto

* à equipa presente, que soube respeitar a minha vontade, em estar presente como se estivesse ausente, não interferindo, apenas observando o milagre da vida e do nascimento

* à Isabela por me ter ensinado tanto no seu nascimento e contribuído com isso para a minha realização pessoal, como mulher, como mãe e como parteira!

 

Sónia Barbosa da Rocha

Enfª Parteira

Razão d’Ser

Fotos: www.magicfotografia.pt

Vídeo: www.natachasampaio.pt

 

Quer saber mais sobre Parto no Domicílio e/ou Parto na água, marque consulta para acompanhamento contínuo por parteira.

 

Ver também:

O Nascimento do Pedro 17.01.200, o 1º filho Razão d’Ser

O Nascimento da Beatriz 19.07.2003, a 2ª filha Razão d’Ser

O Nascimento da Clarisse 25.12.2016

 

 

 

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